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Relato da reunião do GT Clima FBOMS
28 a 30 de Novembro 2004- Brasília
O Grupo de Trabalho Clima GT Clima) do FBOMS (Fórum Brasileiro de
ONGs e Movimentos Sociais para Desenvolvimento Sustentável e Meio
Ambiente) teve reuniões durante 3 dias, como parte do Encontro
Nacional do FBOMS e dos seus vários Grupos de Trabalho.
Muitas das discussões do GT focalizaram na Conferência das Partes da
Convenção de Clima (UNFCCC), que começaram na semana seguinte em
Buenos Aires, mas foram também discutidos outros assuntos como as
várias iniciativas para criar uma Política Nacional de Mudança de
Clima para o Brasil.
Rubens Born fez uma avaliação de diferentes assuntos do GT Clima:
· Política Nacional de Mudança de Clima: Há várias iniciativas
acontecendo para criar uma Política Nacional de Mudança de Clima
para o Brasil. Uma delas na Câmara de Deputados, conduzida pelo
Deputado Vasconcelos que apresentou um Projeto de Lei que contém
objetivos quantitativos para energias renováveis e para reduzir o
desmatamento. Por causa da oposição devida a seu foco de reduzir
emissões, o PL está sendo substituído por uma proposta mais genérica
que está sendo traçada agora. Outra proposta foi apresentada por
Fábio Feldmann e Rachel Biderman, enquanto representantes do
Observatório de Clima e de outras organizações, e outra está sendo
trabalhada no CONAMA. Não está claro se a executiva do Governo
brasileiro também está considerando uma própria proposta.
· COP10 em Buenos Aires - Histórico, agenda e processo: com a
ratificação pela Rússia e a entrada iminente em vigor do Protocolo
de Kyoto, discussões de preparação começarão agora para as
negociações formais sobre os compromissos pós-2012. As primeiras
discussões serão informais, mas serão importantes para definir como
o assunto será tratado uma vez as negociações oficiais começam. É
outro assunto importante para o Brasil a ser discutido;
· Documento Quadro da CAN e compromissos do Governo brasileiro;
· Importância de atualizar o banco de dados do GT Clima, e cadastro
como membros da CAN (Climate Action Network), desde que o GT Clima é
reconhecido agora como o nodo regional da CAN;
· Resposta do FBOMS com relação a projetos de MD, visto a sua
inclusão na Resolução #1 da CIMC;
· Carta do relatório da CAN para o 10º aniversário do evento da
UNFCCC;
Dado o tempo limitado disponível para a reunião do GT Clima, não
todos estes assuntos foram discutidos completamente. Segue resumo
das principais apresentações, discussões e decisões:
Floresta Amazônica
Paulo Moutinho fez um relato da situação de Desmatamento da
Amazônia. As mais recentes análises de dados de satélite sobre o
desmatamento mostram que este ano teríamos talvez a mais alta taxa
de desmatamento na história, com até 31,000 km2 de floresta perdida.
Dado que o desmatamento representa entorno de dois terços dos 300
milhões de toneladas de emissões de carbono do Brasil, e é uma parte
significante do problema de emissões de gases de efeito estufa no
Brasil como também globalmente, também deveria fazer parte da
solução.
Paulo informou que até mesmo com mudanças para incorporar o
desmatamento, os MDL não seriam capazes de proteger as florestas
brasileiras, mas devem ser tratados de alguma maneira através da
UNFCCC. O desmatamento na Amazona brasileira poderia contribuir com
até 16 bilhão toneladas de CO2 (ou Carbono???) na atmosfera antes de
2050. O desmatamento também cria uma serie de repercussões positivas
que contribuem a degradar as florestas restantes como também reduzem
a chuva em nível local e regional. Foi recentemente estabelecido que
parte da chuva em São Paulo é provocada por transpiração na região
amazônica.
Papel de Discussão da CAN para o Quadro Futuro
Mark Lutes apresentou o Papel de Discussão da CAN sobre um quadro
global futuro para prevenir mudança climáticas perigosas, e o
histórico para a sua preparação e aprovação durante a última COP9 em
Milão. Este documento tinha sido precedido por outro que havia sido
preparado no ano prévio durante a COP8 em Nova Delhi, "Prevenindo
Perigosa Mudança Climáticas Perigosas " que concluiu que para
prevenir os impactos mais catastróficos, a elevação global de
temperatura tinha que ser mantida abaixo de 2 ºC. A mesma conclusão
foi adotada pela UE. Para alcançar isto, emissões globais atingirão
um máximo antes do ano 2020, e depois disso derrubarão nitidamente
até que elas serão muito mais baixas que hoje. A pergunta a ser
enfrentada pelos governos como também pelas ONGs que pressionam os
seus governos para agir são: Que tipo de regime global este tipo de
reduções de emissão pode alcançar de uma maneira justa e eqüitativa?
A resposta de CAN, depois de anos de discussão e falta de consenso
neste assunto, é contido no documento "A Viable global Framework for
Preventing Dangerous Climate Change: CAN Discussion Paper" que foi
traduzido para o português com o título "Um Modelo Global Viável
para a Prevenção de Mudanças Climáticas Perigosas". Mark apresentou
os elementos básicos deste documento, e na discussão seguinte,
membros de GT Clima expressaram apoio aos elementos contidos no
documento, com as sugestões seguintes a serem incorporadas no futuro
· Para ajudar os países em desenvolvimento a alcançar a
descarbonização e reduzir o crescimento de, e eventualmente níveis
absolutos de emissões, o documento só fala de transferir recursos e
tecnologia de países industrializados para os países em
desenvolvimento. Enquanto isto será na realidade necessário, há
muitos casos onde as tecnologias mais apropriadas foram
desenvolvidas em países em desenvolvimento, e requerem recursos e
incentivos para alcançar uma maior penetração, em ambos países em
desenvolvimento e desenvolvidos. Tais tecnologias também deveriam
ser apoiadas pela transferência de recursos mencionada acima;
· Deveria haver uma referência ao Artigo 4.1 b,c,c da UNFCCC e ao
Artigo 10 (a) do Protocolo de Kyoto que dizem que "Todas as Partes…
devem… formular, implementar, publicar e regularmente atualizar …
programas nacionais que contém medidas para mitigar as mudanças de
clima…. Esta referência reforçaria o compromisso freqüentemente
negligenciado que os países em desenvolvimento já têm de reduzir o
crescimento das suas emissões de gás de efeito estufa";
· A discussão de financiar mecanismos para rastrear a
descarbonização deve ser melhorada;
· Atenção especial deve ser dada para financiar mecanismos para
reduzir o desmatamento que pode requer tipos diferentes de
mecanismos para outros tipos de emissões;
· Quando o Brasil assumir um objetivo de emissões, este objetivo tem
que incluir o desmatamento. (algo específico para o Brasil deveria
ser incluído aqui)
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Reunião com funcionários do Governo no Instituto Rio Branco
(Seminário público)
Everton Vargas - O Brasil não tem qualquer tipo de compromisso para
a redução de emissões. Mas apesar disto tem muitos programas que de
fato reduzem emissões no Brasil. Lula mencionou Kyoto várias vezes
em conversas com Putin, e com o Chanceler russo durante uma visita
ao Brasil este ano. O debate em Buenos Aires será sobre a
implementação do Protocolo. Alguns países têm grandes problemas para
implementar os compromissos deles por causa de oposição interna - o
caso do Canadá e da Suíça. Sem mencionar os EUA e a Austrália. Assim
o Brasil tem que ter cuidado para não adotar compromissos que estão
fora de linha com as ações dos países do Anexo 1, focalizando um
problema que o Brasil não causou.
Na COP10 ele espera uma chamada para as Partes considerarem próximos
passos. Ele disse que nunca deve-se entrar em uma negociação formal
sem saber o que são os parâmetros.
A Comunicação Nacional do Brasil será a base para pensar o futuro.
Jose Miguez - O inventário será apresentado em Buenos Aires, junto
com a China. Foi feito um esforço considerável para se ter este
inventário e em muitos aspectos é um esforço abrindo caminho, até
mesmo comparado com as comunicações nacionais para o Anexo 1. Os
relatórios setoriais já estão disponíveis no site do Ministério.
Gylvan Meira Filho - Em Kyoto os negociadores tiveram a idéia
bastante simplista que os objetivos seriam atingidos, e então os
países do Anexo 1 negociariam novos objetivos para os períodos
subseqüentes de compromisso. A situação parece mais complicada
agora. No final dos anos 80 o assunto de mudança de clima chegou ao
Brasil de fora, e o Brasil podia apenas reagir a demandas e idéias
de outros. Agora ele está feliz com o fato que o Brasil tem suas
próprias perícias e opiniões, e pôde usá-las para influenciar as
negociações. Ele enfatizou o fato que o único modo para estabilizar
concentrações e prevenir mudanças climáticas perigosas é estabilizar
as emissões. Não há nenhum outro modo. Está na hora para ter uma
discussão aqui no Brasil sobre responsabilidades com relação a
mudanças de clima, sem ter medo. O Brasil tem a capacidade de cobrir
as suas próprias necessidades sem emissões excessivas. O Brasil não
precisa ter medo enfrentando este desafio.
Gradualmente alguns elementos estão emergindo em discussões
internacionais que podem permitir o progresso. Tony Blair está
criando um processo dentro do G8 para discutir como avançar. O Japão
também está tendo discussões. Há um interesse em prazos mais longos
para as reduções, em lugar dos períodos de compromisso de 4 anos no
PK. Uma pergunta grande é que os países em desenvolvimento farão.
No contexto brasileiro, não faz sentido acrescentar emissões de
desmatamento às de energia. Sendo deliberadamente provocante, ele
disse que poderia fazer sentido separar estas duas fontes de emissão
para eliminar fungibilidade entre elas o que têm certas vantagens.
Deve haver mais discussão dentro do Brasil sobre estes assuntos.
Thelma Kruger - Ela gosta de falar para as ONGs, porque ela se sente
mal entendida nas negociações. A discussão da fase pós-Kyoto/pós-2012
começará a nível informal. Um dos assuntos fundamentais é a inclusão
das emissões LULUCF no regime. Isto é muito complexo, porque as
florestas são sistemas dinâmicos com raízes, solo, material morto e
outros elementos. Ela concorda com Gylvan que as florestas deveriam
ser separadas da energia. Em países desenvolvidos, os inventários
sobre uso de terra freqüentemente não são bem feitos (serviço de
porco). Não é possível discutir emissões sem incluir remoções. O
IPCC diz que as emissões do desmatamento são consideradas como
instantâneas, quando de fato as emissões são libertadas em escala de
meses, anos e décadas. |