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PERSPECTIVAS DO FBOMS QUANTO AO ACORDO DE COOPERAÇÃO COM O MMA REFERENTE AOS PROCEDIMENTOS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL (08/02/2006)

Ao celebrar a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS), em junho de 2005, a expectativa do FBOMS foi a de, através da formalização de um canal de interlocução, contribuir mais efetivamente para a construção de políticas públicas na conflituada esfera do licenciamento ambiental de grandes obras de infra-estrutura.

Cientes de que este processo e seus resultados se dariam em longo prazo, afirmando-se inclusive nos próximos governos, tínhamos também a perspectiva de somar, no curto prazo, esforços na defesa do processo de licenciamento e no fortalecimento do MMA frente aos desmandos do setor elétrico. Neste sentido, apesar de reconhecermos o emprenho do MMA em iniciar o debate no âmbito do Governo Federal sobre a necessidade de aperfeiçoamento do sistema de licenciamento ambiental, algo que a sociedade civil organizada vem demandando há tempos, frustramos nossas expectativa de maior esforço do MMA, no curto prazo, para promover o controle social nas etapas de planejamento do setor energético, bem como para assegurar o acesso à informação dos órgãos do governo à sociedade civil visando sua participação informada nos processos de licenciamento de empreendimentos hoje em curso no Brasil.

O processo de planejamento energético, conduzido pelo Ministério de Minas e Energia (MME), segue autoritário e arbitrário, atendendo aos interesses econômicos do setor elétrico e de setores do governo com visível desrespeito à transversalidade defendida pelo MMA. Falta debate público e transparência. Entendendo que o MME conduz o processo, o MMA é cúmplice, porque dá legitimidade a decisões que não se baseiam em considerações técnicas ou ambientais, num processo onde a participação da sociedade civil é vetada. Cobrado desde o início do Governo Lula pela sociedade civil, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) até hoje não nomeou um cidadão brasileiro, para o assento previsto no regimento deste Conselho, onde tais questões poderiam ser colocadas em alto nível de decisão.

Ao trabalhar em conjunto com o MME na definição da lista dos empreendimentos hidrelétricos de energia nova em 2005, nos parece que o MMA aprovou projetos para serem conduzidos ao leilão sem viabilidade ambiental, como Ipueiras, Dardanelos, rio Tibagi, Mirador e outros. Demonstrou uma atuação inconsistente e sem transparência, no que diz respeito a sua intervenção neste processo. Sem o respaldo do MMA às demandas da sociedade civil de participação nestas etapas anteriores ao licenciamento, acabamos por nos considerar adversários, em vez de parceiros, na busca de sustentabilidade no uso e manejo dos recursos hídricos do país, com relação à energia hidráulica.

Na ausência de planejamento democrático, o processo sempre acaba mostrando seus vícios e lado obscuro, criando conflitos que põem em risco a sustentabilidade. A recomendação básica da Comissão Mundial de Barragens, que um processo de construção de grandes hidrelétricas precisa seguir a avaliação de opções e buscar aceitação pública não se considera.

As declarações políticas do presidente do Ibama indicando, no caso do complexo do rio Madeira, o atropelamento de considerações técnicas no processo de licenciamento ambiental, em favor de conveniência política, são um claro sinal que o processo de licenciamento está ficando cada vez mais podre, e está caminhando no sentido oposto ao que deve ser, com a conivência do MMA. O fato de que os estudos de impacto ambiental, entregues ao Ibama em maio de 2005, ainda não sejam públicos e amplamente divulgados apenas 4 meses antes do cogitado leilão do projeto, impossibilita a participação informada da sociedade e a análise independente por técnicos que não aqueles que trabalham no governo ou para empresas interessadas na construção dos projetos.

Finalmente, quanto às expectativas do FBOMs para a continuidade do acordo firmado em 2005, externamos que nos surpreendeu também, e de forma negativa, a falta de respostas concretas às propostas apresentados ao MMA para o aperfeiçoamento dos procedimento do licenciamento ambiental e para a realização de cursos de capacitação popular nas principais bacias afetadas pelos planos do setor elétrico, apesar das diversas reuniões já realizadas (ver abaixo). A situação de inércia do acordo entre o FBOMS e o MMA contrasta com a satisfação do setor elétrico, expressa pela ABDIB, quanto aos avanços obtidos com relação a acordo semelhante firmado com o MMA. Esperamos que nesta reunião possamos avançar concretamente nestes itens, que são objeto do acordo, e encaminha-los segundo os meios analisados aqui como possíveis para ampliarmos, MMA e FBOMS, o controle social e justiça ambiental nos processos de licenciamento.

Histórico do Acordo MMA - FBOMS

3 junho de 2005 - assinatura do Acordo e entrega das propostas do FBOMS, conforme o previsto na Cláusula Segunda, parágrafo I, itens a), b) e c) do Acordo. Nesta ocasião foi sugerida como data do 1o. curso de capacitação, a ser realizado na bacia do rio Uruguai, a terceira semana de setembro de 2005.

16 agosto - 1a. reunião de trabalho, onde o MMA apresentou diversas interfaces e órgãos envolvidos no licenciamento e sugeriu encontros específicos, um para tratar dos cursos de capacitação e outro para tratar dos procedimentos do licenciamento

5 de outubro - reunião sobre cursos de capacitação

24 de novembro - reunião sobre encaminhamentos dos trabalhos do acordo e sugestão do MMA de realização de um seminário sobre procedimentos do licenciamento e processos interinstitucionais envolvidos

8 e 9 de fevereiro de 2006 - seminário sobre procedimentos, com vistas à avaliação dos procedimento do licenciamento, ao encaminhamento das propostas do FBOMS para os mesmo e agendamento dos cursos de capacitação popular

Até o momento, nenhuma resposta do MMA foi dada às propostas apresentadas para os procedimentos de licenciamento ambiental e nenhum curso de capacitação foi agendado.

Neste mesmo período, ocorreram reuniões do CNPE sobre o plano decenal de expansão do setor elétrico, o leilão de energia foi realizado, tendo o MMA participado junto com o MME na definição da lista dos empreendimentos hidrelétricos previstos para o leilão, e teve início o processo de licenciamento do complexo do rio Madeira, o maior empreendimento de energia das últimas décadas.


Brasília, 8 de fevereiro de 2006.

Grupo de Trabalho de Energia
Do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
www.fboms.org.br