Documentos
Carta da Rede Brasiliera de Justiça Ambiental ao Presidente Lula
e a Petrobras sobre atividades da empresa no Equador (23/08/2005)
23 de agosto de 2005
Ao Exmo. Sr. Presidente Luis Inácio Lula da Silva
A Exma. Sra. Ministra do Meio Ambiente Marina Silva,
A Ilmo. Sr. José Sérgio Gabrielli de Azevedo - Presidente da
PETROBRAS
A Ilma. Sra. Maria Augusta Carneiro Ribeiro – Ouvidora da PETROBRAS
No dia 28 de julho de 2005, a empresa estatal Petrobras apresentou
em tribunal judicial no Equador um recurso de amparo contra a
decisão do governo do Equador de suspender temporariamente as
atividades da empresa no Parque Nacional Yasuni e Território
Indígena Huaorani, até que sejam avaliados os impactos da exploração
petroleira sobre o meio ambiente e a vida dos povos indígenas que
habitam a área.
Essa decisão foi tomada pelo governo depois da manifestação
contrária à exploração petrolífera na área, organizada pelos
Huaorani no último dia 12 de julho, quando foi formada uma comissão
que fará a avaliação dos impactos.
Além do recurso de amparo, soubemos, com base em informações das
organizações da sociedade civil equatoriana, que a empresa tem
pressionado diretamente o Ministério do Ambiente do país.
Recentemente o advogado da Petrobras, que também é vice-presidente
da Câmara de Comércio, solicitou uma audiência com a ministra Ana
Albán para discutir a questão referente à suspensão das atividades
não como advogado da empresa, mas como membro da Câmara de Comércio,
tendo se apresentado na reunião junto com os gerentes da Petrobras.
Atitudes como essa demonstram o padrão de atuação que a empresa tem
tido no Equador e que a nosso ver deve ser denunciado à sociedade
civil brasileira.
Porém, maior surpresa nos causou saber que o próprio governo
brasileiro, em carta assinada pelo presidente Luis Inácio Lula da
Silva dia 26 de julho de 2005 e dirigida ao Presidente Alfredo
Palacio, manifestou publicamente sua preocupação com a decisão
tomada pelo Ministério do Ambiente equatoriano. A visita do
Embaixador Celso Amorim nos dias 16 e 17 de agosto de 2005 ao
Equador reforça essa posição do governo brasileiro que, a nosso ver,
significa uma manifestação clara de pressão política e de
desrespeito à
livre determinação do governo do Equador em suas decisões sobre
quais projetos de desenvolvimento devem ser priorizados e podem ou
não garantir a integridade de seu território e sua gente.
Tais ações representam um desrespeito aos direitos dos grupos que
serão afetados pela exploração da empresa, que, inclusive, no Brasil
se vê impedida de explorar em Parques Nacionais e em territórios
indígenas e que, tampouco, tem assumido praticas de pressão política
na implementação de seus projetos como as que acabamos de descrever.
Considerando que,
o Parque Nacional Yasuni é uma das áreas mais ricas em
biodiversidade do planeta;
os impactos das empresas petroleiras no Parque têm conduzido os
povos indígenas que ali habitam a uma situação de exploração e
violação dos Direitos Humanos, e de ameaça constante à conservação
das espécies animais e vegetais, conforme foi demonstrado por uma
missão de verificação à área ocorrida em agosto de 2004 e,
recentemente, denunciado pelos povos Huaorani em sua Marcha a Quito
em 12 de julho de 2005. Ainda que a empresa busque assegurar a
proteção ambiental em suas atividades, a fragilidade da área, tanto
em termos ambientais quanto no que tange à preservação da cultura e
da identidade de seus habitantes, faz com temamos que o mesmo venha
a ocorrer no Bloco 31 sob sua concessão;
o padrão das atividades e do relacionamento com os grupos afetados
por elas deve ser o mesmo em todas as partes onde a empresa atua;
a Petrobras é signatária do Pacto Global das Nações Unidas, um
acordo internacional voluntário onde as Partes se comprometem a
garantir o respeito a nove princípios relativos aos Direitos
Humanos;
As organizações abaixo-assinadas não concordam que a integração
regional sul americana, estimulada pelo governo brasileiro, seja
construída subordinada aos interesses comerciais e, por isso, pedem
e esperam que a Petrobras e o governo brasileiro respeitem o governo
do Equador na sua intenção de atender as demandas dos povos
indígenas que vivem no Parque, permitindo que a comissão de
avaliação possa trabalhar livremente e o tempo necessário para
produzir um relatório capaz de orientar as ações do Estado
equatoriano na proteção e garantia dos direitos de seus cidadãos.
Atenciosamente,
FASE
Brasil Sustentável e Democrático
Projeto Direitos Econômicos Sociais e Culturais – DESC/FASE
Plataforma Interamericana de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais
PACS – Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul
ACPO – Associação de Combates aos POPs
Coordenação Nacional do FBOMS: Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
Fórum Carajás
GTA – Grupo de Trabalho Amazônico
AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobrás
Fian Brasil
Grupo Ação Ecológica/RJ
CEIPAC - Centro de Estudos Integrados e de Promoção do Ambiente e da
Cidadania - Criciúma/SC/Brasil
Sindicato dos Petroleiros de Duque de Caxias – Sindipetro – RJ
Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
AMAR - Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária (Paraná)
APROMAC - Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte
(Paraná)
FASE – Bahia
Núcleo AMIGOS DA TERRA / Brasil
Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC
GT Energia – Fórum Brasileiro de ONG´s e Movimentos Sociais para o
Meio
Ambiente e Desenvolvimento
ECOA – Ecologia e Ação
Associação de Ambientalistas e Amigos do Parque da Água Branca -
ASSAMAPAB
c/cópia para
Exmo. Sr. Presidente Alfredo Palacio,
Exma. Sra. Ministra del Ambiente Ana Albán,
Exmo. Sr. Ministro del Interior Mauricio Gándara,
Deputada Federal Maninha (PT/ DF),
Confederação das Nacionalidades indígenas do Equador (CONAIE),
Organização das Nacionalidades Huaorani da Amazônia Equatoriana (ONHAE),
Comité Ecuatoriano de Defensa de la Naturaleza y Medio Ambiente (Cedenma),
Acción Ecológica,
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